Graduação

Alunos de Medicina da UFT em nota repudiam a criação de mais um curso na Capital

Alunos do Curso de Medicina da Federal do Tocantins são contra nova faculdade de Medicina em Palmas. Segundo eles não há espaço para mais um curso na Capital.

É com grande pesar que o Centro Acadêmico Eduardo Manzano recebe a notícia da criação de um novo curso de medicina na Capital tocantinense, oferecido pelo Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos ( ITPAC).

As instalações hospitalares públicas da capital tocantinense não comportam mais sessenta alunos para a realização das atividades práticas: o Hospital Geral de Palmas, o Hospital Dona Regina e o Hospital Infantil, operam nos seus limites máximos de estagiários, especialmente a partir deste ano, que se iniciará o regime de internato do Curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins.

Entenda o caso

Durante a entrega da autorização do funcionamento da Itafós no Tocantins, o governador Siqueira Campos e o presidente do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos – ITPAC, professor Nicolau Carvalho Esteves, anunciaram o primeiro vestibular da Faculdade de Medicina de Palmas, que acontecerá daqui a 90 dias.

Segundo o presidente do ITPAC, Nicolau Carvalho Esteves, há 12 anos funcionando em Araguaína e Porto Nacional, . “Temos a certificação do Ministério da Educação e a possibilidade de nos instalarmos aqui dentro deste espaço de tempo.

Nicolau acrescentou que a faculdade iniciará com 60 alunos, o que não exige inicialmente uma estrutura grandiosa. “Vamos começar com o primeiro período, então com certeza haverá tempo para construção de salas, que o crescimento pede”. Inicialmente os alunos poderão fazer suas aulas práticas em Porto Nacional, se for o caso, mas podemos perfeitamente oferecer um laboratório de citologia, um de bioquímica, uma sala de aula e uma biblioteca, em 90 dias”, enfatizou.

Leia a nota de repúdio na íntegra abaixo:

Nota de Repúdio

Nas últimas duas décadas, houve um crescimento vertiginoso na oferta de cursos de medicina no Brasil. Tal fato deveu-se especialmente à percepção de que haviam poucos profissionais médicos formados em nosso país, desproporcional à demanda populacional. Assim, a criação de novas escolas médicas seria primordial para as estratégias de saúde pública.

No entanto, a realidade atual demonstra que a perspectiva de aumento da quantidade de médicos, não foi suficiente para sanar os problemas de saúde da população brasileira. Não obstante, esta situação acabou por gestar um problema ainda pior: a formação médica de má qualidade, uma ameaça real à vida das pessoas.

Dito isto, é com grande pesar que o Centro Acadêmico Eduardo Manzano recebe a notícia da criação de um novo curso de medicina na Capital tocantinense, oferecido pelo Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos ( ITPAC). Segundo divulgações da imprensa, esta instituição realizará exames de admissão num prazo de noventa dias, com oferta de sessenta vagas semestrais, e início das aulas no próximo semestre.

Entretanto, a estrutura física mínima para a realização de aulas teóricas e práticas, foi tratada como um problema secundário e as exigências do MEC, como: um Hospital de Ensino próprio ou conveniado por no mínimo dez anos, corpo docente qualificado, salas de aula, laboratórios de anatomia, histologia e outros, não foram consideradas para a abertura do novo curso. Afirmações do empresário do grupo ITPAC na imprensa demonstram que o curso de Palmas se apoiará na estrutura do curso de Porto Nacional, sabidamente precária.

Outrossim, o grupo ITPAC utiliza velhas estratégias para burlar as diretrizes educacionais e implantar uma faculdade de medicina sem autorização do MEC, reivindicando ao Conselho Estadual de Educação autorização para a abertura da faculdade em Palmas. Segundo a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a autorização, credenciamento, reconhecimento e supervisão de cursos é de responsabilidade da União. Em abril de 2009, a Faculdade de Medicina de Garanhus (FAMEG), pertencente ao grupo financeiro em questão, foi fechada pela Justiça Federal de Pernambuco, pois não estava devidamente autorizada pelo MEC, e o ITPAC condenado a devolver o dinheiro pago pelos alunos pela inscrição no processo seletivo, matrícula e mensalidades. O instituto também deveria ressarcir cada estudante prejudicado por danos morais com o valor de R$ 10 000. A Fameg havia efetuado matrícula de 60 alunos.

No último dia 15 de março, os alunos do ITPAC-Porto saíram nas ruas da cidade para reivindicar melhorias na estrutura física e pedagógica do curso médico. Salas superlotadas, laboratórios deficientes, falta de campo para estágio parecem não ser problemas para os proprietários do ITPAC e o Governo do Estado do Tocantins, que incentivou a demanda.

As instalações hospitalares públicas da capital tocantinense não comportam mais sessenta alunos para a realização das atividades práticas: o Hospital Geral de Palmas, o Hospital Dona Regina e o Hospital Infantil, operam nos seus limites máximos de estagiários, especialmente a partir deste ano, que se iniciará o regime de internato do Curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins. Ou será que o Governo do Tocantins não honrará os convênios firmados com a UFT em 2006 e 2007 para a utilização da estrutura hospitalar de Palmas pelo curso de Medicina da UFT, motivo principal para o MEC autorizar uma escola federal nesta cidade?

A falácia da necessidade social de mais um curso de medicina no estado do Tocantins, não se aplica ao presente contexto. Segundo fontes do MEC, o Tocantins é o estado com a maior oferta de vagas de Medicina por habitantes dentre todos os estados da Federação. Atualmente, são disponibilizadas cerca de 360 vagas anuais no Estado, para uma população que não chega a um milhão e trezentos mil habitantes. Ou seja, está-se formando médicos em excesso no Tocantins. Se ainda há demanda por médicos nesta terra, deve-se mais à inexistência de políticas públicas eficientes para a fixação do profissional médico do que pela falta deste.

Ao invés de incentivar a criação de um novo curso de medicina defasado neste estado, o Governo Estadual poderia se empenhar na consolidação das escolas já existentes e em programas para a fixação dos médicos na região. Urge a ampliação dos hospitais regionais de Gurupi e Porto Nacional, para que ao menos consigam atender adequadamente à população de seus distritos e aos alunos da Unirg e ITPAC-Porto, como campo de estágio. Além disso, o Governo Estadual poderia apoiar com mais entusiasmo o curso de Medicina da UFT, única instituição pública que oferece vagas em Medicina gratuitamente no estado, onde qualquer jovem tocantinense que se aplicar aos estudos pode concretizar o sonho de se tornar médico, independentemente de suas condições financeiras.

O internato da UFT começará daqui a menos de quatro meses e ainda não foi doada se quer a área para construção de dormitórios e salas de aula no HGP, mesmo com os recursos já empenhados pela Universidade.

Pelos motivos expostos acima, o Centro Acadêmico Eduardo Manzano, em nome de todos os alunos do Curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins, vem a público declarar sua indignação e repudiar a abertura de uma nova escola de medicina no Estado do Tocantins.

Gustavo Morales Camilo Reis
Presidente do CAEM



 

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