Ciência

Ciência e Tecnologia: Professores apontam os desafios de Mercadante

Manter e ampliar os investimentos em pesquisas no país, garantir equidade na distribuição de recursos entre os estados e criar políticas para incentivar as indústrias a aproveitar o conhecimento científico produzido no país. Estes são os principais desafios do futuro ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, na opinião de professores da Universidade de Brasília.

Para Isaac Roitman, professor aposentado, ex-decano de Pesquisa e Pós-Graduação da UnB e membro da Academia Brasileira de Ciências, garantir o orçamento dos últimos oito anos, além de brigar para aumentar o montante de recursos da pasta, deve ser a prioridade do novo ministro. “O volume de recursos destinados à área de ciência e tecnologia foi a principal conquista da última década”, explica. “Manter esse orçamento é o mínimo indispensável”, defende. “É papel fundamental do futuro ministro convencer as demais áreas de que Ciência e Tecnologia são importantes”, emenda outro professor, Marco Antônio Amato, do Instituto de Física da UnB. Entre 2007 e 2010, os valores disponibilizados no orçamento para a área foram de cerca de R$ 58 bilhões.

Formado e Economia pela Universidade de São Paulo (USP) e doutor em Economia, Mercadante garantiu, em recente entrevista ao portal da Universidade de Campinas (Unicamp), onde também é docente, que os recursos não apenas serão mantidos como aumentados. “Temos condições de melhorar a posição do ministério no orçamento. Ele já é o sétimo ministério na Esplanada”, disse. Mercadante adiantou que a presidente, Dilma Rousseff, sinalizou a perspectiva de ampliação da participação da Ciência e Tecnologia no Produto Interno Bruto dos atuais 1,3% para 2%. “É um investimento estratégico para o crescimento do Brasil”, explicou.

O futuro ministro anunciou, ainda, que pretende dar continuidade às conquistas do Plano de Ação para a Ciência, Tecnologia e Inovação (PAC da Ciência), consolidar uma cultura de inovação tecnológica e investir mais na formação de recursos humanos na área. “Nós tivemos uma política eficiente no Ministério de Ciência e Tecnologia, com o sistema de pós-graduação, investimentos na excelência, descontingenciamento dos Fundos Setoriais, um adensamento da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e a participação do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)”, lembrou na entrevista.

No último dia 3 de dezembro, Luiz Antonio Elias, secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia, anunciou que o orçamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico deve alcançar a marca de R$ 3,8 bilhões em 2011. Em 2010, foram liberados R$ 3,1 bilhões. “É importante que esse investimento seja mantido”, afirma Antônio Brasil, diretor da Faculdade de Tecnologia da UnB.

PREOCUPAÇÃO – Além da manutenção do orçamento, Brasil aponta como desafio do novo ministro manter a política de equidade nos avanços de ciência e, principalmente, tecnologia em todas as regiões do Brasil. “A gestão de Sérgio Rezende buscou isso claramente. É importante a continuidade dessa política”, disse. “A atenção à ciência precisa ser tratada com mais igualdade entre os estados”, pontua o professor Marco Amato. “Espero que, apesar do fato de ser de São Paulo, Mercadante tenha um ministério e uma política de diversidade”, completa.

Alguns professores, no entanto, vêem com preocupação o fato de o novo ministro ser um político paulista. “Tradicionalmente, a ciência e tecnologia são controladas por paulistas e cariocas e o fato de termos um político de São Paulo como chefe dessa pasta pode levá-lo a manter essa lógica, o que não é bom”, acredita o professor Elimar Santos, do Centro de Desenvolvimento Sustentável da UnB. Já o professor Antônio Brasil considera que a atuação política de Mercadante dentro do PT é um ponto positivo para a pasta. “Ele é um homem forte no partido”, afirmou. “Vai ser interessante acompanhá-lo. Ele conhece a academia e deve estar atento aos seus pares”, completou.

INOVAÇÃO – Isaac Roitman enumera ainda como essencial a necessidade de construir uma política de incentivo à inovação. “Cientistas trabalham isolados dentro das universidades e empresas contratam conhecimento de fora, especialmente na área tecnológica. É preciso uma política de aproximação entre a academia, indústria e empresas, de forma a transformar ciência e tecnologia em inovação”, explica Isaac.

Para Marco Amato, o momento é favorável para que isso ocorra. “Esse é um avanço que depende de uma economia favorável, aquecida. É o que ocorre no Brasil nesse instante”, diz. Uma das ações do ministério no último ano mais aplaudidas pela comunidade acadêmica foi a Medida Provisória 495, que dá preferência nas licitações públicas a produtos e serviços de conteúdo tecnológico produzidos no Brasil, como uma nova política de apoio à inovação. A medida já foi aprovada pelo Congresso Nacional.

Fonte: UnB Agência

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