Em 1865, o físico alemão Hermann Ritcher sugeriu que seres vivos poderiam migrar de um planeta para outro através de meteoritos (chamada posteriormente de litopanspermia). Ele é considerado o pai da moderna teoria da panspermia embora o filósofo grego Anaxágoras já fizesse referência as ‘sementes de vida’ espalhadas pelo cosmos. Esta teoria sempre enfrentou críticas da comunidade científica, mas foi defendida por cientistas renomados como Francis Crick e Stephen Hawking. A teoria sempre foi polêmica inclusive quando sugeriu que a vida na Terra surgiu e evoluiu com contribuições da panspermia.
Uma das primeiras críticas a essa teoria era a mais óbvia: se um meteorito ‘queima’ ao entrar na atmosfera devido ao atrito com o ar, como um ser vivo sobreviveria às elevadas temperaturas? A resposta dos defensores da teoria veio por meio da físico-química. No interior de alguns meteoritos foram encontradas substâncias magnéticas e o padrão de magnetismo exibido por elas sofreria alteração ou seria destruído em temperaturas acima de 100˚C. As evidências indicavam, portanto, que durante a entrada na atmosfera apenas as camadas externas dos meteoritos realmente atingiam temperaturas muito elevadas.
Os críticos da teoria alegavam ainda que a radiação cósmica seria capaz de destruir as moléculas orgânicas durante o período de tempo em que esta se encontra no espaço interplanetário. Os defensores apresentaram como evidência alguns meteoritos como o meteorito de Murchison e o de Murray, meteoritos do tipo condritos carbonáceos encontrados na Austrália e nos EUA respectivamente, os quais continham aminoácidos. Para provar que não se tratava de uma contaminação terrestre, os pesquisadores demonstraram que havia tanto aminoácidos levogiros quanto dextrogiros (todos os aminoácidos terrestre são levogiros) evidenciando a origem extraterrestre dos aminoácidos. Pesquisadores brasileiros do instituto de biofísica apresentaram evidências de que a bactéria Deinococcus radiodurans poderia resistir por muito tempo expostas à radiação ultravioleta em quantidades equivalentes à encontrada no meio interplanetário. (Planetary and Space Science 58 (2010) 1180–1187.)
Uma evidência mais polêmica foi apresentada em 1995 quando a NASA apresentou o meteorito marciano ALH 84001 contendo estruturas microscópicas semelhantes à nanobactérias. Novamente, os críticos da teoria apresentaram problemas com a alegada descoberta: cristais de carbonato de cálcio podem sofrer uma cristalização em condições específicas formando estruturas semelhantes às nanobactérias encontradas no meteorito ALH 84001. Logo, a descoberta da NASA seria apenas carbonatos inorgânicos e não seres vivos fossilizados. O debate permanece aberto com um otimismo cauteloso NASA.
Os defensores da teoria apresentaram propostas bastante controversas. O pesquisador russo Padnov alega que, uma vez que o tempo de evolução química pré-biológica (5 a 7 bilhões de anos) é muito maior do que o tempo estimado para a panspermia interestelar (200 milhões de anos), a vida pode ter se espalhado por toda a galáxia e teria uma bioquímica similar em toda ela. (Advances in Space Research 36 (2005) 220–225). Por outro lado, Melosh usando simulação com estatística Monte Carlo encontrou um resultando exatamente inverso para o mesmo tema: a panspermia interestelar levaria mais de 4,6 bilhões de anos podendo ser negligenciada.
Wickramasinghe foi ainda mais longe: analisando o genoma humano e a transferência horizontal de genes, ele sugeriu que parte do genoma humano teve origem na panspermia (ele chama a atenção para o fato de que o projeto genoma humano revelou que quase 8% dos nossos genes correspondem a retrovírus endógenos) e destaca também os ‘saltos evolutivos’, isto é, a natureza às vezes estocástica da evolução com longos períodos quiescentes seguidos de rápidos desenvolvimentos evolutivos, consistente, segundo ele, com o modelo de contribuição da panspermia para os genes dos organismos terrestres. (Astrophys Space Sci (2013) 343:1–5).
As opiniões contrárias, é claro, são abundantes. Giulio (Journal of Theoretical Biology 266 (2010) 569–572) argumenta que há evidências biológicas contra teoria da panspermia. Segundo ele, existem evidências de que a vida terrestre passou por um estágio ‘progenota’ (anterior ao surgimento dos organismos procariotos) e que neste estágio progenota um organismo era excessivamente instável para sobreviver ao traslado interplanetário sugerido pela panspermia. Ele também sugere que não há evidência genética de infecção da vida terrestre com ‘genes extraterrestre’.
O assunto ainda está longe do consenso e muitos argumentos pró e contra a teoria continuam surgindo. A panspermia é, certamente, uma das mais polêmicas teorias científicas. ( Com informações do Dr. Adão Lincon)