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Como vencer um debate sem ter razão



Arthur Schopenhauer (1788-1860) foi um dos mais brilhantes filósofos alemães do século XIX. Suas obras são fartamente citadas por outros escritores de diversas áreas: desde a própria filosofia até as ciências naturais. Dentre as diversas obras de Schopenhauer, uma é bastante divertida para a leitura – e muito útil para entender o mundo atual. A obra entitulada ‘Como Vencer um Debate sem Precisar Ter Razão, em 38 estratagemas’ apresenta e critica a dialética erística, a forma de debater adotada por pessoas que desejam vencer discussões a qualquer custo. Uma rápida leitura da obra impressiona pela atualidade do tema: o leitor certamente vai encontrar diversas situações nas quais foi atacado com argumentos absurdos e, mesmo tendo razão, perdeu um debate.

No Brasil de hoje, é fácil observar como autoridades políticas, religiosas e midiáticas fazem uso ostensivo dos métodos criticados por Schopenhauer. As estratégias têm um mesmo fim: irritar e confundir o adversário em um debate para impor um ponto de vista incorreto. Os métodos para isso variam desde a ‘incompetência irônica’ (resumidamente: se não sabes responder, ironize!) até métodos verdadeiramente cômicos como ‘encolerizar o adversário’ (algo que pode ser conseguido facilmente envergonhando, desrespeitando ou sendo descaradamente injusto com o oponente).

O tema é curiosamente atual em nosso país. Impressiona como as estratégias são utilizadas frequentemente por ambos os lados durantes os debates sobre temas como a origem da vida, a reorientação sexual, a adoção de políticas econômicas com menores taxas juros, a redução de gastos do governo, a possibilidade de uma contribuição hereditária na homossexualidade, etc. O uso de gritarias, deboches, insultos, comportamento desrespeitoso (como fazer caretas) são algumas das formas premeditadas de vencer debates sem ter argumentos. Uma das estratégias facilmente detectável nos debates atuais é chamada por Schopenhauer de ‘Falsa proclamação de vitória’, isto é, quando o debatedor percebe a fraqueza de seus argumentos, ele lança um último argumento irrelevante e encerra o debate argumentando ter vencido a controvérsia (sem permitir uma resposta que poderia corrigi-lo, naturalmente). Esta é uma estratégia muito utilizada por líderes políticos e religiosos em temas polêmicos. Outra estratégia muita vista em debates sobre temas científicos é o argumento ad verecundiam: apelar para autoridades respeitadas, mas que tenham uma opinião equivocada sobre o assunto para ‘comprovar’ a ideia errada. O leitor facilmente lembrará o elevado número de pessoas que memorizam nomes de cientista e pensadores famosos com ideias polêmicas para citá-los em debates (sempre esquecendo os outros cientistas famosos – normalmente a maioria - que discordam das ideias em questão). 


A obra de Schopenhauer é uma leitura muito agradável e, por vezes, divertida pelo tratamento sarcástico que o filósofo dá ao tema. Schopenhauer nota que, quando tudo mais falha, os debatedores que não tem argumentos partem para o uso de ofensas pessoais contra o adversário muitas vezes terminando as discussões com baixarias ou litígios judiciais. A conclusão da obra é a mais óbvia e previsível: não vale a pena discutir com quem não tem humildade e inteligência para ouvir, julgar e aceitar os próprios erros quando estes lhe são racionalmente apresentados. 

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